Família denuncia Hospital de Formosa e Poder Público por negligência que causou mortes de mãe e filho
Família das vítimas fez denúncia no MP de Formosa, que ainda não se manifestou, mesmo diante da gravidade e aguarda resultados
Entre as vítimas da covid-19 em Formosa, todas são muito sentidas pela população e principalmente por seus familiares, mas o caso de uma jovem de 22 anos, grávida de oito meses, ficou marcado pela forma que aconteceu do início ao fim. Em junho, Natalia Ribeiro Andrade, casada, mãe de uma criança e gestante, foi diagnosticada com insuficiência respiratória e suspeita de covid-19. No dia 17, uma quarta-feira, por volta das 03:30 da manhã, Natalia e seu marido, Diego Pereira da Costa, se dirigiram até o Hospital Regional de Formosa com febre e tosse seca. Ela foi atendida pela médica, Renata Thessa Biff, que disse a Diego que Natalia estava com a doença. Mesmo assim a paciente e o marido foram orientados a voltarem para casa e procurarem o Posto de Saúde da Vila Carolina, onde foram atendidos, no outro dia, pelo médico, Vagner Machado, que já vinha acompanhando o pré-natal de Natalia. Na denúncia, consta que ele avaliou a garganta da paciente, verificou a respiração e a temperatura que disse estar normal. Vagner afirmou aos familiares que ela não tinha os sintomas de covid, afirmando ainda que seria somente uma virose, dizendo que ela estava febril devido a inflamação da garganta, que poderia ter sido ocasionada pela poeira. Ele prescreveu dois medicamentos, um antialérgico e paracetamol, por causa da dor no corpo. No sábado dia 20 de junho, por volta das 18:30, diante da piora a jovem voltou ao Hospital Regional, onde foi encaminhada para a emergência, sem que os familiares não tivessem mais contato com ela nessa noite. Foram realizados dois testes rápidos de covid 19 em Natalia com resultados positivos. No domingo dia 21 de junho o prontuário assinado por Lucas Augusto Alves, médico, relatava que no período da manhã a paciente apresentava bom estado. A tarde o mesmo médico relatou que a paciente estava deitada com desconforto respiratório leve. Solicitou uma avaliação obstétrica e afirmou que havia sido disponibilizada uma vaga no Hospital Materno Infantil em Goiânia, por volta das 15:50, solicitando um veículo – Unidade de Suporte Avançado – com urgência para a remoção até a capital.
DESCUIDO – A avaliação obstétrica, feita pela médica Aline Pereira de Oliveira, apresentou que a criança estava em estado normal e que Natalia seria entubada e removida. Realizada a avaliação obstétrica, outro médico, Lucas Augusto Alves, realizou a intubação e Natalia seguiu no box, aguardando a ambulância. Já às 23:20 a paciente entubada seguia aguardando remoção. As 02:29 o médico disse que foi acionado pela equipe, já que Natalia tinha sofrido queda de pressão arterial, recebendo medicamento e restaurada a pressão, quando mais uma vez o médico solicitou sua ida para o Materno Infantil. Na denúncia, consta também que às 3:08, foi realizada uma tentativa de avaliar os batimentos cardíacos do feto, porém o aparelho usado nesse procedimento, o sonar não funcionou. Às 3:20 da segunda, dia 22, Lucas Augusto Alves, médico, narra em seu relatório, que realizou novo contato com o núcleo interno de regulação, solicitando urgência para a remoção da paciente, uma vez que a vaga estava disponível há muito tempo. Na avaliação obstétrica às 04:00 a médica Aline Pereira de Oliveira, foi chamada para reavaliar Natalia e o feto, ressaltando que a paciente estava em estado gravíssimo, entubada e ainda aguardando ser transportada. Na parte final do relatório, Lucas Augusto, relata que a pressão arterial da mãe estava naquele momento 150×90 e que o hospital não dispunha de duas bombas de infusão no isolamento. Foram solicitados exames laboratoriais com urgência, porém houve enorme atraso na coleta. Foi solicitada também nova avaliação obstétrica e cobrado do serviço de regulação a remoção, onde o enfermeiro Bruno, fez os trâmites. Ainda segundo o médico o SAMU estava impossibilitado de fazer a necessária remoção e o transporte aéreo havia sido negado. Por volta das 3:30, após a avaliação da obstetrícia, foi constatada a ausência de batimentos no feto e constatada sua morte. O médico conclui seu relatório narrando que às 4:00, Natalia iniciou queda da saturação. Que foi ajustado novos parâmetros ventilatórios, com melhora parcial e que por volta das 4:10, evoluiu para uma parada cardíaca, com tentativas de reanimação, e que após outros procedimentos, foi constatada também a morte de Natalia, às 4:31 da manhã. Diante de toda a história registrada por testemunhas, laudos, prontuários e relatórios assinados com riqueza de detalhes a família, representada pelo advogado Raphael Mendes de Araújo, não tem dúvidas de que existem culpados pela morte da mãe e do filho, ocasionadas, por meio de negligência de agentes públicos do município, Estado e responsáveis pela direção do hospital.