É de Arraias a primeira desembargadora negra do TJDFT
Maria Ivatônia irmã do prefeito Wagner Gentil entra para a história do Judiciário brasileiro
Assumiu dia 12 de dezembro no Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios/TJDFT a desembargadora, Maria Ivatônia Barbosa dos Santos, primeira mulher negra a alcançar o cargo no Tribunal de Justiça da Capital Federal. A magistrada é natural de Arraias, histórica cidade do Tocantins e irmã do atual prefeito do município, Antônio Wagner Barbosa Gentil. Maria Ivatônia, magistrada de carreira da Justiça do DF, foi promovida desembargadora em novembro de 2019 pelo critério de antiguidade. O Pleno do TJDFT, elegeu de forma unânime a juíza de direito, antes substituta de 2º grau para ocupar a vaga decorrente da aposentadoria do desembargador Marco Antônio da Silva Lemos. Ela é ex-delegada da Polícia Civil de Goiás e ingressou na magistratura do Distrito Federal em1993, como juíza de direito substituta. Em 1996, foi promovida a juíza de direito e em 2014, tomou posse no cargo de juíza de direito substituta de 2º grau. Graduada em Direito pela Universidade Católica de Goiás a magistrada é pós-graduada em Direito Constitucional Eleitoral pela Universidade de Brasília/UnB, em Direito Penal e Direito Administrativo pela Universidade Católica de Brasília e em Direito Penal, Direito Processual Penal e Direito Constitucional pela Universidade Católica de Goiás. Durante a sessão que definiu o nome da arraiana o presidente do TJDFT, desembargador Romão C. Oliveira, parabenizou a magistrada eleita pela importante conquista. A 2ª vice-presidente, desembargadora Ana Maria Amarante Brito, lembrou que, além do critério de antiguidade pelo qual Maria Ivatônia foi eleita, a magistrada tem todo o merecimento em ascender ao cargo de desembargadora, visto que sua trajetória dignifica a carreira da magistratura. Para amigos e a família, Maria Ivatônia é um exemplo de que é possível vencer desafios para chegar longe na carreira sem se beneficiar de cotas. A primeira desembargadora negra do TJDFT, tornou-se magistrada e ascendeu sem qualquer política afirmativa. Aos 5 anos, “fugiu para a escola”, como gosta de dizer. Foi alfabetizada em dois meses, se destacando como a aluna mais nova da turma e notas excelentes. Aos 16 anos, prestou vestibular e aos 21, formou-se em Direito. Passou em primeiro lugar no concurso para delegada da Polícia Civil de Goiás. Quatro anos depois, em maio de 1993, ingressou na magistratura do Distrito Federal. Hoje, aos 57 anos, é celebridade em Arraias.
EXEMPLOS – O censo do Poder Judiciário de 2018, realizado pelo Conselho Nacional de Justiça/CNJ, mostra que apenas 18% dos magistrados do país se declaram negros. Apesar do mérito pessoal, Ivatônia é defensora de políticas afirmativas que abram possibilidades para negros e diz que “A política de cotas é fundamental. Se você é de uma família que não estudou em escola boa e vai prestar vestibular, qual é a sua chance? Zero”, afirma. “É por isso que, mesmo depois de 2000, a porcentagem de 2% de negros na magistratura não se alterou. Não é uma questão racista do tribunal de não deixar passar negros. É porque os negros não chegam ao tribunal com conhecimento necessário para disputar com os meninos que, graças a Deus, tiveram estudo”, avalia. Maria Ivatônia narra passagens de discriminações que viveu, inclusive no próprio tribunal por parte de servidores. Certa vez, a desembargadora foi barrada por um segurança no corredor de autoridades por onde passaria o então presidente do Supremo Tribunal Federal/STF, Ricardo Lewandowski. Mas Ivatônia não o denunciou. “Ele também era negro. Pensei: vou reclamar dele, abrir um processo administrativo? Ele vai ser demitido. Vai ter mais filhotes negros sem escolas. É mais um para dar problema… É melhor esquecer a cara do segurança”, disse. No Rio de Janeiro, ela viu um amigo branco e loiro ser recebido com deferência em um hotel de luxo, enquanto era tratada com desconfiança. Já ouviu também que era “negra de alma branca”. Maria Ivatônia estudou vários idiomas, como inglês, espanhol, francês, alemão e italiano. E brinca que, muitas vezes, prefere entrar num hotel chique falando outra língua, para não ser destratada. “Assim vão pensar que sou uma americana rica”, diz, com bom humor.